quinta-feira, 24 de maio de 2007

Fechamento de TV na Venezuela é ato grotesco de Chávez

Hugo Chávez fechará domingo a cadeia de TV mais popular da Venezuela, e que lhe faz oposição. Mesmo que ele fechasse a mais desconhecida estação de rádio ou o jornal de menor tiragem, para mim não faz a menor diferença: é um ato grotesco, arbitrário e ofensivo aos princípios básicos de liberdade de expressão, fundamentais para qualquer sociedade tolerante, pluralista e aberta.

Pouco me importa também se Chávez o faz em nome do "socialismo do século 21", da "revolução bolivariana" ou de qualquer outra coisa que ele invente para dar rótulo aceitável a algo que não passa de um projeto autoritário, demagógico e retrógrado. Ao longo da minha carreira de repórter desenvolvi um profundo desprezo por tiranos, ou candidatos a tiranos, que se referem à "vontade popular" (que eles, lógico, representam, interpretam e manipulam) como justificativa para seus atos.

Chávez acusa a emissora que ele vai fechar de ter sido golpista e apoiado quem tentou tirá-lo do poder. Não é motivo para tirá-la do ar. Havia leis e tribunais na Venezuela habilitados a punir o que possa ser considerado abuso. Parece-me que Chávez se faz de vítima quando, na minha opinião, é o agressor. Está empenhado no controle à informação como elemento vital para a consolidação do poder pessoal. Calar as vozes desconfortáveis fez parte de todo regime arbitrário.

Aprendi na minha vida como enviado especial a dezenas de crises, conflitos, guerras e convulsões políticas e sociais, nos mais diversos países e regimes, que princípios têm de ser universais e têm de valer para qualquer lugar. Não posso achar que liberdade de expressão merece ser defendida quando é conveniente fazê-lo em função das minhas convicções políticas ou alianças do momento. Ou que o cerceamento a liberdades individuais possa ser tolerado em função de "componentes culturais" de uma sociedade ou país determinado.

Uma das mais belas tradições jornalísticas, que une profissionais do mundo inteiro por cima de barreiras políticas, religiosas e sociais, é a da resistência à tentativa de manipulação da informação, à agressão à liberdade de imprensa e ao cinismo com que ativistas políticos (não importa sua tendência, se "esquerda" ou "direita") tentam fazer do direito de expressão uma categoria elástica e adaptada a seus interesses. Por isso tenho desprezo também pelos que levam na sua carteirinha profissional a designação "jornalista", mas submetem o princípio da liberdade de expressão à conveniência política do momento.

Um dos meus heróis modernos é o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, que enfrentou com palavras, na universidade de Salamanca, em 1936, a onda sanguinária franquista. "Vencerão mas não convencerão", disse ele, olho no olho, a uma besta truculenta, um general que comandava suas tropas com o grito "viva a morte". "Vencerão porque têm a força bruta, mas lhes falta a razão".

Sobra força a Chávez, e nenhuma razão.

2 comentários:

Eduardo Moraes disse...

Triste é ver que o nosso governo e o Ashton simpatizam com estes comunistas.

Anônimo disse...

Rubenito....vc realmente consegue enganar o povo, eu vc não engana!!!

Se o Lula decidir fechar os canais de oposição não sobrará quase nada....ou nada...r.srssrrsr